LANÇAMENTO NO RIO DE JANEIRO

O lançamento do romance Afonso aconteceu em 2004, na Casa de Artes Paquetá, um centro cultural instalado num magnífico casarão do século XIX, no Rio de Janeiro. O salão principal foi decorado com quadros e peças que remetiam os visitantes a passagens do livro, acompanhados de textos com trechos correspondentes. Foi a forma criativa e inusitada que a autora encontrou para convidar os presentes a, literalmente, entrarem no que ela denominou de "o mundo de Afonso".

NOSSA SENHORA DA LUZ

NOSSA SENHORA DA LUZ
O caminhão partiu. Quando a poeira baixou, ele olhou em volta e buscou a tal vila. Um caminho comprido levava até lá. Seus olhos ainda não enxergavam bem. Aos poucos, porém, foi percebendo as coisas. Era pequeno o lugar, mas... lá estava a cruz... e se tinha uma casa para Deus...
Parou em frente a porta da Igreja. Não via direito o altar nas sombras. Ajoelhou-se e agradeceu. Tinha chegado até ali. Ali, onde?

- Bom dia, meu filho!
- Bom dia, seu padre...
- Por que não entra?
- Tô sujo demais da viagem...
- Deus não liga para essas coisas...
- Mas carece de ter respeito pela casa dele... do jeito que tô, não devo...
- De onde você vem?
- De longe... viagem de cinco dias em carroceria de caminhão...
- E para onde vai?
- Para onde tiver trabalho... talvez aqui... o padre sabe onde posso arranjar trabalho?
- Acho que agora você precisa é de descanso. Há quanto tempo não come?
- Já esqueci... o senhor sabe onde tem comida aqui? Eu pago...
- No fim da rua tem a venda de seu João. Eles fornecem comida para o povo da região. Procure por ele... é boa pessoa...
- Agradecido, seu padre... sua benção...
- Deus o abençoe, meu filho...
- Padre... quem é a santa do altar?
- Nossa Senhora da Luz. A Vila é dela...

O GARIMPO

O GARIMPO
Todos naquele caminhão iam buscar trabalho em outra parte. Lavradores, na maioria, deixavam para trás a família com o sonho de mandar buscá-los depois. Com certeza, para uma vida melhor. Muitos jamais tornariam a se encontrar. A vida melhor não existia e, na vida nova, acabavam formando nova família, tão carente quanto a anterior e assim seguiam em frente.
Alguns já sabiam para onde iam e o que iam fazer. Três deles iam catar pedra num tal de garimpo.

- E catar pedra pra que?
- Pra ficar rico!
- E faz o que com a pedra?
- Jóias! Coisa fina que os ricos usam pra se enfeitar.
- Coisa mais esquisita...não dá pra entender...
- Não é pra entender, garoto, é só cavar, achar as pedras e pronto! A gente trabalha para os outros, mas às vezes dá pra esconder uma pedrinha e não entregar pro patrão...
- Mas isso tá errado...
- Errado é a gente se afundar na lama, se enterrar naqueles buracos pro patrão ficar rico!
- Sei não...
- Ocê vai gostar...o lugar é animado. Tem muita bebida,
muito jogo, muita mulher bonita...ocê já conheceu mulher?
- Claro!
- Então! Ocê vai gostar...
- Sei não...

O BOLO DE MILHO

O BOLO DE MILHO
Antônia foi buscar no forno o bolo que pusera para assar.

- Hum! Tá quentinho... vou cortar um pedaço pra você...
gosta?

Ele mal podia acreditar. O cheiro do bolo fumegante o levou para longe, no tempo e no espaço. Estava em casa, sentado no colo da mãe, balançando na cadeira dela. Dividiam o bolo pequenino, quente do forno e do amor que ela colocava junto com a massa.
Antônia ficou observando aquele olhar saudoso.

- Não vai comer o bolo?
- É bolo de milho, dona Antônia... e com erva-doce...
- É... você gosta?
- Faz tanto tempo... tanto tempo...

Afonso leva um pedaço do bolo à boca e sentindo o sabor, não esconde a emoção.

- Igualzinho ao que a mãe fazia pra mim... tanto tempo,
dona Antônia, tanto tempo...

As lágrimas vieram em torrente. Eram lágrimas antigas que se misturavam às novas, às mais recentes, um misto de saudade e solidão, de desamparo, de tristeza infinita...

OS AMANTES

OS AMANTES
Ela foi percorrendo com as mãos macias cada detalhe. Aquele toque fazia a pele arrepiar, o coração disparar, o corpo arder... Em poucos instantes viu-se fechado num quarto a sós com uma mulher. Finalmente ... Uma brisa fria bateu em seu rosto. Estava mesmo precisando. Pensamentos e sensações invadiam o corpo e a mente. Em sua direção, caminhava aquela jovem, vestindo uma roupa transparente, revelando o corpo nu. O vento leve descobria ainda mais aquele universo desconhecido.
Com um afago nos cabelos ela indagou.

- Já esteve com uma mulher antes?

Por um momento resolveu abrir o jogo.
Mas...

A ESCOLA

A ESCOLA
A escola ficava no alto de um pequeno morro. Era uma casa simples e carecia de trato. Chegando mais perto pode ouvir uma voz de mulher que falava coisas estranhas e que vozes infantis repetiam.

- A, B, C, D, E...

Dona Mariana viu aquele desconhecido do lado de fora mas, continuou a aula. De rabo de olho observava o curioso. A aula chegou ao fim e as crianças foram saindo. Logo, formou-se uma roda de meninos a jogar pião. Aquilo ele conhecia. Só lamentou não ter um também, mas, de tanto olhar, um logo perguntou.

- Sabe jogar?
- Sei sim... mas não tenho pião...
- Toma... pode jogar com o meu...
- Ih... aposto que ele não sabe...
- Se disse que sabe...
- Anda, joga pra gente ver...

E sabia, afinal, ainda era menino. De jogo em jogo foi conhecendo e se fazendo conhecer. Quando Dona Mariana chegou perto, já eram todos amigos. Ela queria saber mais...

OS SAPOS

OS SAPOS
- Que foi, dona?
- Ali... no canto... perto do fogão...
- O que?
- Um bicho!

Armou-se de um facão e cauteloso foi caçar.

- Que bicho é? É cobra?
- Não sei... ele pulou lá pra trás...
- Pulou?

Achou finalmente. Um sapo assustado atrás do fogão. Tratou de conduzir o bichinho pra fora.

- Achou?
- Achei... dona Helena... era um sapo...
- Era?
- Um sapinho...
- Era?
- A senhora acaso tem medo de sapo?
- É... não sei... nunca tinha visto um... pelo menos, não assim... tão perto...
- A senhora tá ouvindo essa cantoria lá fora?
- Estou... e o que é?
- Sapo... um monte deles... quando chove assim que nem ontem, eles procuram um lugar pra se abrigar... venha ver...
- Eu?
- Sim... eles são seus vizinhos... aqui, carece de conhecer os vizinhos, diferente da cidade grande...

AS CAMINHONETES

AS CAMINHONETES
Através dos peões de lá soube de uma fazendola onde se precisava de motorista para um dos caminhões que, uma vez na semana, levavam a produção para a cidade mais próxima. Era viagem de quase três horas entre a fazenda e a cidade. O tal caminhão, pode verificar depois, era uma caminhonete e a comitiva partia bem cedinho.
Era mais um ganho e foi muito bem recebido.
Assim, devagarinho, foi ocupando todo o tempo com o trabalho...

A SELA

A SELA
Montou-se o rodeio de disputa entre os peões das várias fazendas. Buscavam a vitória para si, mas também para os patrões, como cavaleiros empunhando antigos estandartes.



- Peão Afonso, tá aqui o dinheiro do vencedor, conforme

combinado. E agora, é só você escolher a sela, esta, presente meu. Sou homem de palavra. Vá lá dentro com o Onofre e pegue a sua.

- Não carece ir lá dentro mais o Onofre, não senhor, por causa que a que eu quero tá lá não...

- Ora... e onde está então?

- Ali... no lombo do Negro.



O patrão engoliu em seco. Ostentava com orgulho seu melhor cavalo com sua melhor sela, bem ali, diante dos convidados, como exemplo do seu plantel. Devia a doma do animal àquele peão, sabia, mas... ele recebera pelo trabalho. Certo que saíra dali em petição de miséria, e ele, patrão, não fizera nada a seu favor. Seria uma vingança?

Aquele dia ficaria gravado em sua memória. Nutria por Afonso sentimentos antagônicos. Em momentos como aquele, queria vê-lo morto. Sujeito abusado! Aquele olhar tranqüilo, aquele jeito seguro tiravam qualquer um do sério. Era sem dúvida admirável. Um ninguém que se firmava nas pernas e impunha respeito. Que sujeito!




LANÇAMENTO NA BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO 2005 - RIO DE JANEIRO

LANÇAMENTO NA BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO 2005 - RIO DE JANEIRO
LANÇAMENTO NA BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO 2005 - RIO DE JANEIRO

LANÇAMENTO EM MARIANA - MINAS GERAIS

ABERTURA OFICIAL DA EXPOSIÇÃO ALDRAVISTA DE ARTE – MOSTRA INTERNACIONAL
NO MUSEU CASA ALPHONSUS DE GUIMARAENS

O dia 02 de junho no Museu Casa Alphonsus de Guimaraens foi inaugurado com a Exposição Aldravista de Arte – Mostra Internacional. O evento contou com a participação de 170 pessoas. Dentre os moradores da cidade de Mariana e autoridades presentes, vieram membros da Academia de Letras de Ponte Nova (ALEPON), Secretário de Cultura, professores e diretora da Casa de Cultura da cidade de São Gonçalo do Rio Abaixo. A Secretaria de Educação de Santa Bárbara também proporcionou a participação de 45 alunos deste Município, entre eles estudantes do curso de Letras – Unidade da UFOP – Santa Bárbara – e alunos do Ensino Fundamental e Médio.

A programação, mesclada e diversificada com artes plásticas, literatura e música, proporcionou um evento dinâmico. Apreciadores de artes plásticas observavam e comentavam os trabalhos expostos de artistas de outros países e da cidade de Mariana na galeria do Museu. Poetas, professores e amantes de Saraus ocupavam as cadeiras ou ficavam em pé para escutar a poesia declamada pelos alunos da Escola de Ensino Fundamental e Médio Dom Viçoso. A poesia criou vida nas vozes soltas e emocionadas dos alunos deste educandário. Um momento mágico nesta combinação que acompanha as iniciativas culturais do grupo Aldravista.

Na sala de entrada a escritora carioca Maria Luíza Falcão, Delegada Regional da APPERJ, com um charme discreto, lançava o romance Afonso – (a trajetória de vida de um brasileiro das Minas Gerais).

Após Sarau e apresentação do romance pela autora, o evento foi finalizado com Jazz e MPB ao piano tocado pelas mãos ágeis do músico Arley Camilo. (Texto de Andreia Donadon Leal)




PROJETO BIBLIOTECA SOBRE RODAS - VIAÇÃO ITAPEMIRIM - REPORTAGEM E FOTOS FÃBUS

PROJETO BIBLIOTECA SOBRE RODAS

Um ônibus da Viação Itapemirim transformado em biblioteca móvel está no parque municipal de Belo Horizonte e ficará até o próximo sábado, dia 3 de junho. O Fãbus esteve lá e conversou com os monitores, além de testemunhar as diversas atividades realizadas por este projeto de grande impacto social que a "Mirim" realiza em todo o país. Após anos transportando pessoas de ponta a ponta de nosso país, este Tribus foi reformado e adaptado para continuar a sua jornada de contribuição para a sociedade brasileira. O imenso salão recebeu estantes para abrigar livros e computadores para a inclusão digital.

Os visitantes escolhem os livros de preferência e em seguida podem usufruir do confortável sofá para uma leitura relaxante.

O Fãbus acompanhou a belíssima apresentação do grupo teatral "Atuação". Eles fizeram uma rápida encenação de um trecho do livro "Afonso" da escritora Maria Luíza Falcão.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009